Artigo do Nelson Marques no Expresso Diário sobre "Os Predadores" publicado ontem (só para assinantes) e hoje com versão longa no site do Expresso.
Foi hoje para a gráfica a 2ª edição de Os Predadores.
Está em 3º do top geral da FNAC, em 3º da não-ficção da Bertrand e em 3º da geral da Sonae. Obrigado a todos os leitores que mesmo antes da apresentação do livro - será quinta-feira, 24 de Setembro, às 19hna FNAC do Chiado - já se interessaram pelo tema.
História de ontem no Diário de Notícias sobre Os Predadores, um trabalho do Miguel Marujo. O título da peça, "histórias do submundo de caciques que elegem os líderes dos partidos" é inadvertido, mas fica aqui a nota: o subtítulo do livro esteve à beira de ser "uma viagem ao submundo dos partidos".
Estão todos convidados para o dia 24 de Setembro, quinta-feira, na FNAC do Chiado. O livro será apresentado às 19h00 por Nuno Garoupa, presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos e pelo professor José Adelino Maltez. Eu também estarei lá.
Quem acreditasse que as primárias iam resolver os problemas das eleições internas dos partidos enganou-se. As primeiras primárias do PS abertas a simpatizantes, realizadas em setembro de 2014, acabaram por reproduzir as lógicas mais elementares do caciquismo habitual. Foi uma abertura de um partido à sociedade? Foi. O resultado final reflecte essa abertura? Não. Como o Expresso explica neste artigo da Cristina Figueiredo (artigo na foto, não no link) sobre o livro, as primárias do PS foram um embuste porque não representaram, afinal, um avanço tão histórico assim para a nossa democracia. António Costa ganharia muito provavelmente em qualquer das circunstâncias, mas uma análise fina aos resultados permite-nos perceber que se mantiveram e reforçaram as lógicas do aparelho.
Essa tendência é mais fácil de verificar nos bastiões de apoio a António José Seguro, porque o candidato derrotado venceu aí com números totalmente inversos aos resultados nacionais, por força da acção de arrebanhamento dos dirigentes locais. No caso de António Costa, este reforçou as votações nos concelhos onde era apoiado pelos caciques mais poderosos, um efeito que também se deveu ao facto de ter uma organização muito mais profissional e activa. Conclusão: nestes moldes, como tento explicar no livro, as primárias tal como o PS as organizou não vão salvar os partidos de si próprios. Mantêm-se tudo tal e qual, mas potenciado por mil...
O capítulo acerca da vitória de Luís Filipe Menezes sobre Marques Mendes, na terceira parte do livro - aqui revelada pelo Miguel Santos, do Observador, na passada sexta-feira - é o que melhor ilustra como um poderoso cacique se pode tornar num dos "de cima". Menezes tinha poucos notáveis, não granjeava simpatia na comunicação social, a elite do partido estava contra ele e mesmo assim ganhou. Até os jornalistas políticos mais experientes ficaram surpreendidos naquela noite. Através deste exemplo pode perceber-se como os partidos são frágeis. Menezes tinha o poder ancorado na maior concelhia do PSD, com quatro mil militantes. Dominava a distrital do Porto, a maior, que era presidida por Marco António Costa. Garantia o apoio das outras grandes concelhias como Famalicão e Barcelos. E depois era preciso anular Lisboa (onde venceu) e atenuar a Madeira e os Açores.
O grupo dos caciques mais experientes do lado de Menezes conseguiu inverter de forma impressionante a vantagem de Marques Mendes: o líder dominava a secretaria do partido, tinha mais credibilidade na comunicação social e era acompanhado pelas "personalidades". Menezes provou que "as bases", as suas queridas bases, é que contam: porque votam consoante a indicação do seu chefe ou galopim. O segredo da vitória começou pela criação de uma enorme base de dados de deu um carácter "científico" à cacicagem e consolidou-se com a descodificação do algoritmo que gerava dos códigos de pagamento das quotas por multibanco, através de um informático em Madrid. Quebrado o código, os menezistas pagaram quotas a militantes por todo o país. Nunca se saberá de onde veio esse dinheiro. Menezes durou poucos meses à frente do partido, mas a posição de "ex-líder" havia de lhe valer o estatudo senatorial de um lugar no Conselho de Estado.
Há mais exemplos destes na administração pública, mas os 18 Centros Distritais da Segurança Social são um verdadeiro barómetro para medirmos, mais uma vez, como os lugares no Estado servem de moeda de troca para recompensar apoios políticos. Quando o Governo de Pedro Passos Coelho tomou posse, tinha a promessa anunciada de promover a meritocracia contra a mera distribuição de lugares pelo aparelho partidário. Luís Pedro Mota Soares, do CDS, até fez uma arenga no Parlamento, no inicio de 2011, questionando o facto de todos os dirigentes distritais da Segurança Social serem militantes socialistas. Quando o Governo mudou do PS para a coligação, foi criada a CRESAP. Mesmo com esse filtro, o que torna a situação ainda mais impressionante (e com Mota Soares como ministro), todos mas todos os dirigentes socialistas foram substituídos por gente do PSD e do CDS. (Este gráfico reproduzido na Sábado esta semana está nas pgs. 362-363 do livro). O sistema está completamente inquinado por várias razões: se um novo Governo mantiver nos cargos os dirigentes do partido anterior, corre sérios riscos de ser boicotado; se os substituir por gente sua, continua a colonizar os Estado por gente escolhida através de critérios meramente partidários. Há solução?
Infografia: Filipe Raminhos
A teoria subjacente a este livro é que os partidos são organizações piramidais, de pequenas oligarquias que se organizam da base até ao topo, numa lógica de troca comercial de apoios e votos por empregos e lugares. Os exemplos são muitos por todo o País, mas atinge-se o ponto de saturação - aliás muito comum - quando entram em jogo os familiares dos apoiantes políticos. A Câmara Municipal de Lisboa, liderada por António Costa, é um desses exemplos. Cada uma destas pessoas poderá ter, como é evidente, características adequadas ao cargo. Mas todas juntas dão-nos um retrato de nepotismo que não fica bem a quem diz acreditar nos valores republicanos. Este gráfico foi reproduzido na SÁBADO desta semana, mas no livro a infografia (pg. 328-329) estende-se a outras categorias: os autarcas que perderam eleições nas freguesias e os dirigentes do PS que também estão empregados na CML. Trata-se de uma verdadeira rede de influências que se repercutiria depois na vitória de António Costa nas primárias do PS.
Infografia: Filipe Raminhos
A pedido de muitas famílias: o livro será lançado no dia 24 de Setembro na Fnac do Chiado. Depois revelarei quem o irá apresentar...
É ler o texto na SÁBADO de hoje. Em vez de uma pré-publicação tradicional com excertos, que ficava mais desconchavado, faço um texto resumindo algumas das histórias que estão mais desenvolvidas no livro.