Há mais exemplos destes na administração pública, mas os 18 Centros Distritais da Segurança Social são um verdadeiro barómetro para medirmos, mais uma vez, como os lugares no Estado servem de moeda de troca para recompensar apoios políticos. Quando o Governo de Pedro Passos Coelho tomou posse, tinha a promessa anunciada de promover a meritocracia contra a mera distribuição de lugares pelo aparelho partidário. Luís Pedro Mota Soares, do CDS, até fez uma arenga no Parlamento, no inicio de 2011, questionando o facto de todos os dirigentes distritais da Segurança Social serem militantes socialistas. Quando o Governo mudou do PS para a coligação, foi criada a CRESAP. Mesmo com esse filtro, o que torna a situação ainda mais impressionante (e com Mota Soares como ministro), todos mas todos os dirigentes socialistas foram substituídos por gente do PSD e do CDS. (Este gráfico reproduzido na Sábado esta semana está nas pgs. 362-363 do livro). O sistema está completamente inquinado por várias razões: se um novo Governo mantiver nos cargos os dirigentes do partido anterior, corre sérios riscos de ser boicotado; se os substituir por gente sua, continua a colonizar os Estado por gente escolhida através de critérios meramente partidários. Há solução?
Infografia: Filipe Raminhos
A teoria subjacente a este livro é que os partidos são organizações piramidais, de pequenas oligarquias que se organizam da base até ao topo, numa lógica de troca comercial de apoios e votos por empregos e lugares. Os exemplos são muitos por todo o País, mas atinge-se o ponto de saturação - aliás muito comum - quando entram em jogo os familiares dos apoiantes políticos. A Câmara Municipal de Lisboa, liderada por António Costa, é um desses exemplos. Cada uma destas pessoas poderá ter, como é evidente, características adequadas ao cargo. Mas todas juntas dão-nos um retrato de nepotismo que não fica bem a quem diz acreditar nos valores republicanos. Este gráfico foi reproduzido na SÁBADO desta semana, mas no livro a infografia (pg. 328-329) estende-se a outras categorias: os autarcas que perderam eleições nas freguesias e os dirigentes do PS que também estão empregados na CML. Trata-se de uma verdadeira rede de influências que se repercutiria depois na vitória de António Costa nas primárias do PS.
Infografia: Filipe Raminhos